segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As Imagens na Igreja Católica


“Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto” (Ex 20, 4-5).

Eis a passagem que causa tantas controvérsias entre católicos e protestantes.

À primeira vista, temos a impressão de que de fato existe alguma coisa de errado em colocar imagens em igrejas ou outros lugares. Todavia, quando examinamos as Sagradas Escrituras e também a prática Dops primeiros cristãos transmitida até os nossos dias, pelo ensinamento da Igreja, encontramos algo diferente: Deus permitiu em determinados casos o uso de imagens, e nunca a Igreja católica levou seus fiéis a adorá-las.

Etimologicamente falando, a palavra idolatria é formada por duas palavras de origem grega: eidolon (imagem) e latreia (adoração). Desse modo, significa que o ídolo é transformado em objeto de adoração ou morada de uma divindade. Num sentido mais amplo, também indica outras realidades que acabam ocupando o lugar de Deus: dinheiro, poder, lazer, pessoas etc.

Quantas vezes uma pessoa se escandaliza com o uso das imagens por parte dos católicos e não percebe a presença da idolatria em sua mente e em seu coração, influenciando hábitos e costumes a ponto de fazer sombra ao próprio amor de Deus. Este é o ensinamento de Paulo em Cl 3,5:
“mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria”.

A Idolatria é um dos mais graves pecados da criatura contra o seu Criador.

O ponto de partida para entender as palavras de Ex 20, 4: “Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra”, ou outros textos semelhantes (cf. Lv 19,4; Nm 33, 51-52; Dt 4, 25-26; 27, 14-15), é ter presente que Deus nunca se revelou de modo visível, por isso seria difícil representá-la por meio de alguma figura. Além disso, também existia a realidade religiosa dos povos com os quais os israelitas tinham contato. As divindades eram representadas pelas mais diferentes imagens. Deus não queria ser confundido com nenhuma delas.

É importante não perder de vista o fato de que a proibição diz respeito a imagens ou estátuas das divindades pagãs ou ídolos, principalmente por se tratarem de representações de seres humanos que nunca existiram, animais, astros ou outros elementos da natureza. (cf. Dt 4, 15-19).

Comparar a proibição bíblica aos ídolos pagãos com as imagens ou estátuas usadas na Igreja Católica é forçar os textos bíblicos, para levar a conclusões erradas e pecar contra a verdade. Deus condenou a adoração e o culto aos deuses pagãos. Em nenhuma Igreja Católica há imagens de deuses antigos ou novos. Pelo contrário, as estátuas e imagens, em nossas igrejas, recordam pessoas que realmente existira, às quais não se presta nenhuma adoração. Os santos representam pessoas que, em algum momento da história cristã, tornaram conhecido, pelo exemplo de vida e por palavras, o Deus único e verdadeiro. Por isso, servem como um auxílio para que possamos também amar e servir ao verdadeiro Deus. Olhando para as imagens ou estátuas e conhecendo o modo como praticam a fé, somos desafiados a dizer: “Se eles e elas puderam viver a Palavra de Deus, eu também posso”.

A idolatria existe quando se atribui divindade ou poderes sobrenaturais a uma imagem. O verdadeiro católico sabe que as imagens não têm poderes divinos, nem virtudes pelas quais devem ser adoradas. O uso de imagens ou estátuas a Igreja Católica segue orientação bíblica dada pelo próprio Deus em diversas ocasiões. Nesses casos o uso era para efeito decorativo e para utilizar a arte como meio para despertar a atenção para Deus.

- Quando foi construída a arca da aliança, foi dito a Moisés: “Farás também uma tampa de ouro puro, cujo cumprimento será de dois côvados e meio, e a largura de um côvado e meio. Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro do outro” (Ex 25, 17-18).


- Também recebeu a ordem de fazer uma serpente de bronze para que os israelitas, ao olharem para ela, fossem curados do veneno das serpentes: “...o Senhor disse a Moisés: Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido olhando para ela será salvo” (Nm 21, 8).

- Davi dá ao seu filho Salomão os planos de Deus para a construção do Templo Santo de Jerusalém: “... do altar dos perfumes, em ouro fino, com seu peso; o modelo de carro dos querubins de ouro que estendem suas asas para cobrir a arca da aliança do Senhor. Tudo isso, disse Davi, todos os modelos dessa obra, foi o Senhor quem me ensinou por um escrito de sua mão” (1Cr 28, 18-19).

É interessante observar que ficou gravado detalhadamente na Bíblia como o Templo de Jerusalém foi decorado com imagens (cf. 1Rs 6, 19-32; 2Cr 3, 8-13). Nem por isso, Salomão é acusado de desconhecer a ordem de Deus contida no decálogo.

Na Encarnação do Verbo, Jesus Cristo mostrou aos homens uma face visível de Deus, que quis se servir de numerosos elementos sensíveis (imagens, palavras, cenas históricas…) para nos comunicar a Boa-Nova.

É relevante notar que já nas antigas Catacumbas de Roma, os antigos cemitérios cristãos, encontram-se diversos afrescos geralmente inspirados pelo texto bíblico: Noé salvo das águas do dilúvio, os três jovens cantando na fornalha, Daniel na cova dos leões, os pães e os peixes restantes da multiplicação efetuada por Jesus, o Peixe (Ichthys), que simbolizava o Cristo…

Os cristãos foram, então, compreendendo que segundo a pedagogia divina, deveriam passar da contemplação do visível ao invisível. As imagens, principalmente os que reproduziam personagens e cenas da história sagrada, tornaram-se “a Bíblia dos iletrados” ou analfabetos.

São Gregório de Nissa (†394) escreveu: “O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente”.

As imagens sempre foram usadas por Jesus e pelos Apóstolos como instrumentos eficazes e reveladores da realidade invisível: para anunciar o Reino de Deus usaram imagens de lírios, pássaros, sal, luz, etc., coisas que estimulavam a compreensão do abstrato através de imagens retiradas do mundo concreto. São Paulo também ensina que o Deus invisível tornou-se visível em Jesus Cristo (cf. Cl 1,15).

O pensamento simbólico é pensamento religioso propriamente dito. É na linguagem simbólica que se expressa a experiência do espiritual. Quando essa forma de pensamento não-conceitual deixa de ser usada ou é ridicularizada, produz-se a destruição de uma das disposições religiosas do ser humano. Quando se destruíram as imagens, destruiu-se o elemento que deixa o que é cristão transformar-se em sentimento. A imagem provoca e confirma o pensamento simbólico, sem o qual não se pode imaginar religiosidade viva. Observando imagens religiosas aprendemos a sentir simbolicamente. A melhor forma de introduzir crianças no mundo de concepções cristãs é através de imagens. Quando aprendemos a ver a imagem apenas como 'ídolo', destruímos a percepção para o pensamento simbólico.

“Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos à Cristo: são-no também as imagens sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam ‘a nuvem de testemunhas’ (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criando ‘à imagem de Deus’(cf. Rm 8,29ss; 1Jo 3,2ss) e transfigurado ‘à sua semelhança’, assim como os anjos, também recapitulados em Cristo...” (CIC § 1161).

3 comentários:

  1. Daniel,

    Muito bom o post, mas - dessa forma - só se repete o fato de mostar a Luz aos cegos. Eu li a formação da imagem de Cristo numa perspectiva histórico-teológica que partindo da cultura pagã grega, passando pela judaica e cristã até os nossos dias fazia perceber que essa Imagem foi a "coisa" mais NOVA para todo o mundo, de tal forma que, pela encarnação da IMAGEM (cf. Cl 1,15)o tempo cronológico foi zerada, para então ser novamente contada. A possibilidade da iconografia (escrita de imagem)parte da Encarnação de Xto e é esse todo o fundamento para a possibilidade de todas as outras imagens sacras cristãs.

    ADOREI O SEU POST.

    Um grande abraço!!

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  2. Muito bom esse post Daniel XD
    Esclarece muito pra quem não compreende, e também ajuda pra quem também pensa assim, por que tá bem fundamentado. Gostei muito mesmo.

    Beijos.

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  3. A critica aos catolicos sobre o uso e representação de imagens "não abala em nada os alicereces na fé catolica" porque provém sempre das seitas e nunca de igrejas propriamente dita. o judaismo e o islamismo respeitam a crença catolica. primeiro porque herdamos dos "nossos pais jedeus" 60% da tradição apostolica, e segundo porque os islão provém 6 seculos adientes o suficientes de respeitar a essencia da TEOLOGIA CATOLICA
    de onde provêm as criticas? das seitas fundada do vazio essencial, do egocentrismo pessoal. e a estas seitas construidas em nossos dias apenas se apegam nestas questões porque revelam a inocencia de compreensão de assuntos que exige não só argumentos mas tambem experiencia historica.
    mas contudo deixo aqui uma conclusão ao meu ver inteligente:
    "Na igreja catolica não existe e nunca existiu imagem que representa Deus, porque ele não é representado mas sim vivido, e toda Biblia sagrada exige na proibição de presentação de Deus". idolatria é representar Deus como o bezerro do deserto e nela depositar toda confiaça, e Nós os catolicas nos curvamos apenas no DEUS EUCARISTICOS COMO MEMORIA DA EXISTENCIA ETERNA NO MEIO DA COMUNIDADE.

    zacas_quimico@hotmail.com
    www.legiaoperegrina.blogspot.com

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