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terça-feira, 2 de julho de 2013

Partituras dos Tempos Litúrgicos

LITURGIA I - Nossa Festa com Maria
                      Uma luz na montanha
                      A esperança canta a vida
                      A festa do amor

LITURGIA II - Cantemos com alegria
                       Cantando a Palavra de Deus
                       Eu sou feliz, tu és feliz!
                       É Natal no coração!
                       Eu nasci pra te amar

LITURGIA III - Missa de Natal - Deus se faz irmão
                        Cantos para a Semana Santa - Seu amor é sem fim
                        Missa de Nossa Senhora
                        Missa do tempo comum

LITURGIA IV - Advento

LITURGIA V - Natal

LITURGIA VI - Tempo comum - Ano A  (2-19 DTC)

LITURGIA VII - Tempo comum - Ano A (20-34 DTC)

LITURGIA VIII - Advento - Anos B e C

LITURGIA IX - Tempo comum - Ano B

LITURGIA X - Tempo Pascal - Ano B

LITURGIA XI - Tempo comum - Ano C (2-17 DTC)

LITURGIA XII - Tempo comum - Ano C (18-34 DTC)

LITURGIA XIII - Quaresma - Ano A

LITURGIA XIV - Quaresma - Anos B e C

LITURGIA XV - Tempo Pascal - Ano C

LITURGIA XVI - Tempo Pascal - Ano A

FESTAS LITÚRGICAS I - Santa Mãe de Deus
                                             Apresentação do Senhor
                                             Santíssima Trindade

FESTAS LITÚRGICAS II - Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
                                              Natividade de São João Batista
                                              São Pedro e São Paulo

FESTAS LITÚRGICAS III - Assunção de Nossa Senhora
                                              N. S. Aparecida - Padroeira do Brasil
                                              Imaculada Conceição de Nossa Senhora

FESTAS LITÚRGICAS IV - Transfiguração do Senhor
                                                Exaltação da Santa Cruz
                                                Todos os Santos
                                                Fiéis Defuntos
                                                Basílica de São João de Latrão



O Ano Litúrgico

“A Igreja considera seu dever celebrar com sagrada memória, em dias determinados, durante o ano, a obra da salvação do seu esposo divino.” (Sacrosanctum Concilium – Vaticano II, pág. 102)



O Tempo Litúrgico tem como unidade central o Ano – tempo da graça do Senhor, tempo da plenitude, tempo da Igreja que nasce da Páscoa de Cristo, e cuja presença entre nós é para sempre: o Cristo Ressuscitado caminha conosco rumo ao Reino definitivo. O tempo da liturgia, além de se organizar pelos ciclos naturais do dia, mês e ano, destaca-se pelo ciclo cultural-religioso da semana de sete dias, tendo o domingo como referência central, pois “no primeiro dia da semana” o Senhor ressuscitou, chamado por isso o Dia do Senhor ou Domingo. Assim, este “grande dia de festa” se tornou para a Igreja apostólica e para nós, hoje, um dia consagrado, onde os cristãos se reúnem para celebrar a memória da morte e ressurreição do Senhor. O domingo é o dia da nossa páscoa semanal, através da celebração da Eucaristia, memorial da Páscoa de Jesus, por isso mesmo, dia de festa e alegria, antecipação do banquete eterno!
O Ano litúrgico é um caminho pedagógico-espiritual para nossa vivência cristã, um instrumento de salvação e comunhão, um meio para santificar e viver o tempo da graça do Senhor; com ele, desdobramos ao longo do ano os principais acontecimentos da vida de Jesus, partindo da sua Encarnação (Natal) e culminando na Ressurreição e glorificação (Páscoa). A partir destas duas festas básicas, foram surgindo ao longo do tempo, outras festas do Senhor, dos mártires, de Nossa Senhora... Portanto, é à luz do único mistério salvador, que celebramos e cantamos NO TEMPO a nossa redenção. Mistério profundo e inesgotável, que se desdobra no chamado Tempo Comum, e que o canto deve expressar, acompanhando o sentido do Ano Litúrgico e suas festas.
Cada ciclo se compõe de três momentos:

NATAL: Preparação - Advento, quando celebramos a vinda de Jesus. Tempo de esperança.
    Celebração - Natal e Epifania. Cristo assume nossa carne e se manifesta a nós.
    Prolongamento - Domingos após a Epifania

PÁSCOA: Preparação - Quaresma. Conversão. Preparação e renovação do batismo.
      Celebração - Páscoa, Ascensão e Pentecostes.
      Prolongamento - Domingos depois de Pentecostes.

TEMPO COMUM 
O Tempo Comum se compõe de 33 ou 34 semanas. Começa depois da Festa do Batismo de Jesus e vai até a terça-feira antes da Quaresma. Recomeça na segunda-feira após a festa de Pentecostes e se prolonga até a véspera do primeiro domingo do Advento. É comum, mas importantíssimo para o sustento. Não é extraordinário. É o dia a dia. E nos mostra que Deus se faz presente nas coisas simples. “O Reino de Deus não vem de forma ostensiva...” (Lc 17,20). Durante esse tempo, celebramos a ação de Jesus no mundo, a presença de Maria (modelo de fé, figura da Igreja), o testemunho dos santos (irmãos, benfeitores e modelos).

Função Ministerial da Música e do Canto


            "... A música sacra será tanto mais santa, quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica..." (SC 112c). Na liturgia, o canto une as pessoas, anima e dá vida à celebração. Facilita passar de "uma só voz" a "um só coração", e, finalmente, a "uma só alma", como se vê na espiritualidade das comunidades primitivas. Podemos, pela liturgia, unir nossa voz à dos anjos, sendo realmente nosso canto exultação de um povo feliz e redimido.
            A música, na liturgia, é chamada a uma densidade teológica e espiritual à altura do mistério que nela celebramos. Por isso, não se pode escolher qualquer canto e qualquer música para a liturgia, pois, ela deve aderir-se à natureza da liturgia, na sua funcionalidade ministerial.
            Vejamos, agora, cada um dos cantos que compõem a missa, com suas respectivas funções ministeriais:

A) Canto processional de Entrada: Acompanha o rito, o movimento, a procissão. Tem por finalidade constituir e congregar a assembleia, introduzindo-a no mistério a ser celebrado – tempo litúrgico, sonorizar o caráter festivo da celebração, provocar a união dos fiéis, dar o tom da celebração.
            O Missal Romano diz: “... seja adequado à ação sagrada ou à índole do dia ou do tempo litúrgico”, elevando seus pensamentos à contemplação do mistério litúrgico. Pode ser usada a antífona com seu salmo (Gradual Romano) ou outro canto, executado pelo povo ou alternando grupo coral e povo.
            O canto de entrada deve ser de grande amplidão, alegre e vibrante, de preferência em tom maior, ritmo binário (hino ou canto estrófico: refrão e estrofes), de preferência a uma só voz, para facilitar o canto do povo.

B) O rito penitencial – Senhor, tende piedade ou Kyrie eleison -  é uma aclamação suplicante endereçada a Cristo, o Senhor, louvando-O e à sua misericórdia. Pertence aos cantos rituais, constituindo o próprio rito da celebração (Ordinário da Missa). Não é o Ato Penitencial, mas sim uma doxologia ou proclamação da bondade e misericórdia de Deus, cantado após o Ato Penitencial e a absolvição, a não ser que já tenha participado do mesmo, através das várias fórmulas apresentadas pelo Missal Romano, como variante deste.  Importa não acentuar demais o aspecto penitencial na Celebração Eucarística, evitando também paráfrases e outros cantos penitenciais.

C) Glória ou Hino de Louvor – Diz a Introdução do Missal Romano: “O Glória é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro, portanto de caráter doxológico (louvor, glorificação). É cantado de forma direta pela assembleia dos fiéis ou pelo povo em alternância com os cantores, ou ainda só pelo coro.” ( n.53). É uma das peças mais antigas da Missa, incorporada pela Igreja Romana no século II, por ocasião do Natal. Sua nota dominante: o júbilo, louvor confiante e alegre... Como hino que é, deve ser cantado. Pode ser dividido em três partes: a) o canto dos anjos, na noite de Natal; b) os louvores a Deus Pai; c) os louvores seguidos de súplicas e aclamações a Cristo, o Cordeiro, o Kyrios, o Senhor. Canto em prosa, conforme Missal Romano, há várias melodias. Evitar os “Glorinhas”, trinitários, que abreviam o conteúdo rico do mesmo. Não deve ser substituído por outro canto de louvor, pois faz parte dos cantos rituais, é o próprio rito.

D) Salmo Responsorial – O costume de se cantar o salmo após a leitura remonta aos primeiros séculos do cristianismo, prática herdada do culto da sinagoga judaica. Santo Agostinho fala do valor do salmo cantado durante a liturgia da palavra, como uma “leitura cantada”. Faz parte integrante da Liturgia da Palavra, como resposta orante da comunidade à proposta e às maravilhas proclamadas por Deus na primeira leitura, e deve ser cantado de forma dialogal, o texto de preferência extraído do Lecionário, que é a nossa Bíblia litúrgica.  Importância da função do salmista, ao mesmo tempo ouvinte e ministro da Palavra; ele proclama o salmo no ambão – mesa da Palavra. O salmo é a proclamação da Palavra cantada, por isso requer-se o mínimo de preparo técnico e vocal, litúrgico e musical do salmista. Devido à sua importância, não deve ser omitido nem substituído por “canto de meditação”.  É um canto interlecional, ou seja, está situado entre as leituras.

E) Aclamação ao Evangelho, o “Aleluia” - adaptação portuguesa do Halelû Yah = Louvai Javé. Portanto, convite ao louvor jubiloso, através do qual a assembleia dos fiéis acolhe o Senhor que vai falar no Evangelho; como um “viva” pascal ao Verbo de Deus, que nos dirige palavras de vida eterna.  É uma solene e jubilosa profissão de fé cantada, aclamando Jesus Cristo. Portanto, sendo aclamação, é um grito com que exteriorizamos nossos mais profundos sentimentos e experiências de vida, projetando-nos para fora de nós, algo que espontâneo brota do interior e se faz exclamação, grito de júbilo. Por isso, deve ser breve, denso e sonoro. Também por isso mesmo, só pode ser cantado, não se lê, não se diz, só se canta...
            O ideal: Aleluia (todo o povo) + versículo do dia (solista ou coral). As aclamações são importantíssimas para a participação do povo. Na Quaresma é substituído por outra aclamação, mas também vibrante e sonora. É cantado por todos, de pé, podendo acompanhar a procissão com o Evangeliário, do altar para o ambão, hoje já tão em uso nas nossas liturgias. Pode-se repetir a aclamação como resposta ao Senhor que nos falou, no final do Evangelho.

F) Credo – A profissão de fé é menos apta para ser cantada por toda a assembleia, mas a Instrução Geral do Missal Romano prevê: “O símbolo deve ser cantado ou recitado pelo sacerdote com o povo aos domingos e solenidades; pode-se também dizer em celebrações especiais de caráter mais solene. Quando cantado, é entoado pelo sacerdote ou se for oportuno, pelo cantor ou pelo grupo de cantores; é cantado por todo o povo junto, ou pelo povo alternando com o grupo de cantores.” Os documentos dizem que não existe obrigação de cantá-lo, pois não é hino nem aclamação, mas sim profissão de fé. Se for cantado, “procure-se fazê-lo como de costume, todos juntos ou alternadamente”.  É a afirmação da unidade da fé, não só através das diferentes comunidades, mas através dos tempos.

G) A oração universal, Preces“Na oração universal ou oração dos fiéis, o povo reza por todos, exercendo deste modo o seu múnus sacerdotal.”. A ordem é a seguinte: a) pelas necessidades da Igreja; b) pelas autoridades civis e pela salvação do mundo; c) por aqueles que sofrem dificuldades; d) pela comunidade local. É uma herança da tradição judaica, que gostava de acrescentar às bênçãos orações de súplicas, e desde o início do cristianismo foram aceitas e multiplicadas... Pode ser considerado como parte do Ordinário da Missa. Nem sempre as Preces vão ser cantadas, mas o seu canto lhes dará uma solenidade e intensidade especiais.

H) Canto das oferendas, preparação dos dons – É canto que acompanha a apresentação dos dons do pão e do vinho, facultativo e tem verdadeiro sentido quando houver a procissão das oferendas para o altar. Diz a Instrução do Missal: “O canto das oferendas acompanha a procissão das oferendas e se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido colocados sobre o altar.” Portanto, não deve se prolongar, uma vez que acompanha o rito da procissão com os dons. Não é um canto para oferecer o sacrifício: a única oferta é Jesus Cristo e nós, “por Ele, com Ele e nEle”, em sacrifício vivo e santo; é,  sim, canto para apresentar os dons e preparar a mesa do altar, após a liturgia da Palavra... Por isso, evitar os “cantos de ofertório”. Momento com muitas possibilidades, dependendo da solenidade ou da festa: um hino a Jesus Cristo, ao Espírito Santo, a Maria ou outro; um solo de órgão ou outro instrumental, um dueto vocal, o coro, além de responder cantando à oração de bênção: “Bendito sejais, Senhor Deus do Universo...” (Os momentos da preparação dos dons: a apresentação do pão, a apresentação do vinho, a mistura da água e do vinho, as outras oferendas – nossa partilha fraterna, e a oração sobre as oferendas. A apresentação dos dons é o pórtico de entrada da oferenda eucarística).

I) Sanctus, a aclamação do universo – Tem sua origem no Oriente, século II. O texto bíblico: As duas primeiras aclamações, tiradas de Isaías, de sua visão dos anjos prostrados diante do altar... “Toda a terra está cheia de sua glória”. Hosana (do hebraico Hosiah-na= dá a salvação, do salmo 118,25 – “Senhor, dai-nos a salvação!”) Nas alturas = Deus que habita os altos céus... Bendito o que vem: Sl 118,26, que a tradição transformou numa aclamação messiânica: “Bendito O que vem em nome do Senhor!”, festejando e aclamando o Senhor, quando de sua entrada em Jerusalém. (Mt 21, 9). Portanto, o clima bíblico do Santo é de celebração gloriosa: teofania (manifestação de Deus), deve produzir expressão exuberante de alegria, aclamação jubilosa, unânime e solene com que se conclui o prefácio (que inicia a oração eucarística, e devia ser cantado). O santo, como o salmo e o Amém doxológico, é o principal dos cantos do Ordinário da missa. É a primeira aclamação da assembleia na prece eucarística, e como hino-aclamação, deve ser profundamente festivo e jubiloso, evocando a aclamação entusiasta do povo no dia de Ramos, a parusía gloriosa no fim dos tempos, ambiente de festa em que céu e terra se unem, reunindo num louvor cósmico e universal, os santos do céu e a Igreja da terra. Segundo o Apocalipse, o Sanctus é a aclamação da liturgia celeste. A assembleia deveria ficar à vontade e alegre, ao cantar esse louvor solene, sentindo-se intérprete fundamental desta aclamação, a primeira e mais importante a ser cantada pela comunidade. A melhor forma de cantar o Santo é a forma direta. Não deve ser substituído por “versões tão livres que não correspondam à doxologia bíblica.”.

J) Aclamação Memorial – Logo após a narrativa da Instituição, o presidente canta ou diz: “Eis o Mistério da fé!” e todos aclamam, de pé, como povo ressuscitado em Cristo: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte...” ou “Toda vez que se come deste pão...” ou ainda “Salvador do mundo...”, proclamando sua fé em tom aclamativo, fazendo memória do mistério pascal de Cristo – sua vida e mensagem salvadora, sua paixão e morte, ressurreição e ascensão ao céu, enquanto aguarda a sua vinda gloriosa. Não pode ser substituída por cantos de adoração ou benditos... Recomenda-se que nos tempos de Advento e Natal cante-se o “Anunciamos, Senhor...”; Quaresma e Páscoa“Salvador do mundo...”; Tempo Comum - “Toda vez que se come...”, mas a primeira é a mais usada nos domingos. (Também chamada de Anamnese, do grego= lembrança, comemoração).

K) Aclamação à doxologia final - O grande Amém -  Ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Conclui a Oração Eucarística: Ao “Por Cristo, com Cristo, em Cristo...”, recitado ou cantado pelo presidente, enquanto eleva ao Pai com bastante expressividade o pão e o vinho  transformados em Corpo e Sangue do Senhor, portanto  em Eucaristia e ação de graças, a assembleia deve  aderir e prorromper  com o “Amém”, muito vibrante e solene, repetido várias vezes, cantando portanto,  e podendo-se aplaudir. Este amém nos lembra nossa dignidade de povo sacerdotal, participando com ele da prece eucarística. Lembra-nos Santo Agostinho: “Seu amém é sua assinatura, é seu consentimento, é seu compromisso.” E São Jerônimo recorda-nos que esse Amém  “ressoava como um trovão” nas basílicas romanas. É o movimento do universo rumo à eternidade de Deus, aquilo que o gesto da doxologia quer significar. “Toda a criação nasce do coração do Pai, como fruto do Seu amor. Toda a criação alcança a sua existência por Cristo, primogênito de toda criatura” (Col 1, 15). Toda a criação é habitada pelo Espírito que a enche do Seu amor.” (Lembra Pe. Busch – os pedaços da vida que vamos oferecendo, o amém da vida inteira entregue... AMEM! ALELUIA1) Nosso Papa João Paulo II- sua última palavra: Amém! SEMPRE  devia ser CANTADO, pois é de fundamental importância. Há várias fórmulas no Missal.

L) Pai Nosso: a oração dos filhos – Chegou até nós por dupla tradição: Mateus 6, 9-11 e Lucas 11,2-4. São sete petições, das quais as três primeiras “celestes” – Deus, sua Vontade e seu Reino, e as quatro seguintes “terrestres”, pois dizem respeito a nós, humanos. O próprio Jesus nos ensinou, dirigindo-se a Deus como “Abba, Pai!”. A celebração eucarística é em si mesma louvor dos filhos ao seu Pai do céu. Pode-se cantar o Pai Nosso numa melodia simples. Sendo um texto bíblico, não deve ser substituído por paráfrases ou outros textos. O Pai Nosso na Missa não é conclusivo, e sim nos introduz ao rito da comunhão. Por isso não se diz Amém no final.

M) O rito da Paz – O Missal explica: “Os fiéis imploram a paz e a unidade para toda a Igreja e para toda a família humana; e saúdam-se uns aos outros, em sinal de mútua caridade.” (56). Consta de três elementos: a oração pela paz, a saudação, à qual a assembleia responde “O amor de Cristo nos uniu” e o gesto da paz, que é facultativo. Não faz parte da tradição litúrgica entoar-se um canto durante a saudação. Mas este sinal de fraternidade foi muito bem acolhido pelo povo, tornando-se um dos elementos de maior participação de toda a assembleia. Se há um canto durante a saudação da paz, que seja curto e leve, e não tenha um conteúdo de fraternidade e amizade apenas, mas um anúncio de que Jesus traz a verdadeira paz.  “Ele é nossa paz.” (Ef 2, 34). Portanto, deve referir-se a Cristo, à paz do Ressuscitado. Não deve ofuscar nem invadir o canto que acompanha o rito da fração do pão, o “Cordeiro de Deus”. Cuidado para não abusar dos cantos de paz, deixando-os para os dias mais solenes, festas especiais, optando de preferência por cantar o Cordeiro de Deus, ao realizar a fração do pão.

N) Cordeiro de Deus - Foi introduzido na Missa pelo Papa Sérgio, no século VIII, inspirando-se nas palavras de João Batista, ao saudar Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo...”, e com acentos de glória e louvor tirados do Apocalipse, onde o Cordeiro aparece com toda a sua majestade pascal. No início, a invocação era repetida enquanto durasse o rito que ela acompanhava. No século XI as invocações foram limitadas a três, sendo que a última conclui com o “Dai-nos a paz!”. O Missal Romano acrescenta: “Pode repetir-se o número de vezes que for preciso, enquanto durar a fração do pão.” (n.63). Compete ao povo / animador do canto / coral e não ao sacerdote entoar este canto, acompanhando o partir do pão para a comunhão, preparando-se a assembleia para participar do banquete pascal do Cordeiro imolado e glorioso, ele nossa paz.

O) O Canto processional da Comunhão – Acompanha o rito da Comunhão, sendo o canto mais antigo da missa, aparecendo já em Roma no século IV. Inicialmente se entoava o Salmo 34 (33) “Provai e vede como o Senhor é bom. Feliz de quem nele espera, nada lhe falta, será feliz.”. São Jerônimo nos fala deste canto, que com o tempo,  foi cantado após a comunhão, o chamado postcommunio. Diz a Introdução Geral ao Missal Romano: “Enquanto o sacerdote e os fiéis recebem o Sacramento, tem lugar o canto da comunhão, canto que deve expressar, pela união das vozes, a união espiritual daqueles que comungam, demonstrar ao mesmo tempo a alegria do coração e tornar mais fraternal a procissão dos que vão avançando para receber o Corpo de Cristo. O canto tem início quando o sacerdote comunga, prolongando-se enquanto os fiéis comungam até o momento que pareça oportuno.”  Um canto adequado à comunhão deverá corresponder ao sinal que está sendo realizado:  a refeição fraternal do Corpo e do Sangue de Cristo, na fraternidade e alegria da participação do banquete eucarístico.  Uma assembleia que caminha cantando em busca do dom gratuito e generoso do Pai que se senta à mesa com seus filhos e a todos alimenta com o Seu Filho Jesus, é símbolo de uma Igreja a caminho, alegre e festiva. Agora e aqui na terra, todos “convidados para a Ceia do Senhor; e um dia, jubilosos convidados para as Bodas do Cordeiro, o Cristo glorioso, no céu... Portanto, não são apropriados os antigos cantos de adoração ao Santíssimo Sacramento, nem cantos subjetivos e intimistas, de mensagem genérica. Na medida do possível, esteja em consonância com o evangelho proclamado: a Palavra se faz Eucaristia! É normal que os cantos de comunhão tenham, de alguma forma, a participação de toda a comunidade. A respeito do grupo dos cantores, que é sempre uma questão com muitas dúvidas, diz o Missal Romano: “O grupo dos cantores , segundo a disposição de cada igreja, deve ser colocado de tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz parte da assembleia dos fiéis, onde desempenha um papel particular; que a execução de sua função se torne mais fácil; e possa cada um de seus membros facilmente obter uma participação plena na Missa, ou seja, participação sacramental. (n.312). Não há necessidade de multiplicar cantos durante o rito da comunhão: silêncio, alternância entre canto e instrumento, algum solo, repetição do refrão, convém mais, refletindo a unidade do mistério celebrado e da assembleia como um todo.

P) O canto após a Comunhão – O Missal Romano lembra a possibilidade de entoar um salmo, hino, refrão orante: “Terminada a distribuição da Comunhão, se for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio, recolhimento, interiorização. Se desejar, toda a assembleia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino”. (n.83) “É um canto facultativo, não necessário, e às vezes nem desejável, quando já houve um canto de comunhão, com participação do povo, que se prolongou por algum tempo”. (Estudo 79 da CNBB), não cabendo neste momento Oração pelas vocações, Ave-Marias, homenagens... (Homenagens e avisos são feitos após a Oração, antes da bênção final).  Equilíbrio, bom senso, sensibilidade são sempre o melhor caminho  para dosar canto e silêncio, levando a assembleia ao encontro com Deus.

Q) Louvor Final – Não está previsto o chamado “canto final”, não faz parte da estrutura da missa, após a bênção e despedida do sacerdote, uma vez que com o “Ide em paz”, a assembleia está dispensada. Na saída do povo, o mais conveniente seria uma música instrumental, como acontece nas igrejas da Europa, ou uma bela intervenção do coro/grupo de canto... Mas nosso povo de certa forma o incorporou ao seu repertório litúrgico, de modo que se pode entoar um canto devocional – a Maria, ao santo padroeiro, ou outro, em vista da missão, de caráter mais livre.

Canto e Música na Liturgia


          Dá para imaginar a vida sem música? Música é coisa de todo mundo, de todos os tempos, de todas as culturas. Nossa vida de fé, nossa vida cristã, não poderia ser diferente! Uma celebração litúrgica sem música tem pouca graça. Não é à toa que a Sagrada Escritura, os Pais e Mães da Igreja e os documentos oficiais sobre a liturgia insistem na importância do canto e da música. Porém, não se trata de qualquer música! Este é o conteúdo desse DVD apresentado em três blocos: 1) Quem canta na liturgia? 2) O que cantar na liturgia? 3) Um canto para cada tempo litúrgico. No final de cada bloco são colocadas algumas perguntas para o grupo aprofundar o tema. Esperamos que este subsídio ajude nossas comunidades cristãs a celebrar ativa e frutosamente o Mistério Pascal, cantando o canto novo dos ressuscitados em Cristo.





Qualidades do ministro de música

            O ministro de música deve apresentar algumas qualidades que são imprescindíveis. São qualidades necessárias para seu ministério, que colaboram para o êxito do seu serviço e ao mesmo tempo revelam aos que se sentem chamados para o mesmo serviço que não se trata apenas de cantar ou tocar um instrumento, mas que na verdade este é o aspecto mais superficial de todo o ministério.

           
1. HUMILDADE: sabe reconhecer-se do tamanho que é. Humilde é aquele que reconhece suas possibilidades e limites e os coloca a serviço de Deus e da comunidade. Diz-se que muitos dos primeiros serão os últimos e que os últimos serão os primeiros (Mt 19,30), que todos aqueles que se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado (Lc 14,11). De fato o que Jesus ensina opõe-se frontalmente às preferências do mundo, objetivos tais como ser o primeiro, enriquecer, vencer na vida por esforço individual, viver o aqui e agora sem se preocupar com o futuro. “Talvez vos envergonheis de imitar um homem humilde; imitai, ao menos, um Deus humilde” (Santo Agostinho). Nós, cristãos, deveríamos ser humildes para poder imitar melhor o Pai do Céu, que se tornou humilde em Jesus por todos nós.

2. VIDA INTERIOR: um ministro que pensa, estuda, ouve, se esforça, mas acima de tudo silencia a si mesmo para ouvir a voz do seu mestre. Sabe de suas fraquezas, mas também sabe a graça de Deus. Suas opções são seguras e permanentes, construídas sobre a rocha. Em tudo busca amar e servir.

3. INSTRUMENTO DE DEUS: é um discípulo consciente que foi chamado para uma missão e a exerce como instrumento nas mãos de seu Senhor.  Não faz sua própria vontade, mas a do mestre. Não faz seus planos e apresenta para Deus abençoar, de maneira alguma, mas busca conhecer os planos de seu mestre para realizá-los. É através da nossa voz e dos nossos instrumentos que Deus se comunica com aqueles que nos ouvem.

4. HOMEM DE ORAÇÃO: não apenas de oração comunitária, mas segue o exemplo de Jesus que inúmeras vezes procura estar só com o Pai. “A oração deve acompanhar os passos dos missionários, para que o anúncio da Palavra se torne eficaz pela graça divina” (João Paulo II). A oração é a única coisa capaz de conquistar a Deus, Ela coloca o poder de Deus à disposição do homem, e cada ministro de música deve trabalhar segundo o poder de Deus.

5. INSPIRA SEGURANÇA E CONFIANÇA: tem segurança interior. A comunidade percebe esta segurança nas melodias que faz. Todos confiam em seu serviço. É seguro não porque se julga bom demais, mas porque confia no Senhor. Sua segurança não está em coisas visíveis, mas no poder imensurável do Espírito que age através dele.

6. ALEGRE: por sua alegria, o músico animará toda a comunidade. E não se trata de uma alegria forçada, mas da alegria do fruto de quem serve a Deus por amor. Alegria fruto do homem novo que agora existe nele, do Cristo que ressuscitou em seu interior, em seu coração. Convém lembrar que um ministro que espelha somente uma alegria exterior, superficial, provoca apenas exaltação com as músicas. Sua alegria está em servir através de seu ministério.

7. BOM OUVIDO: sabe escutar em dois aspectos. Primeiro, escuta sabiamente ao Senhor e, com facilidade, percebe a vontade de Deus. Segundo, tem senso de ritmo, voz afinada quando canta, senso de melodia; sem isso, terá dificuldade em ser ministro de música.

8. DISCRETO: ao final de cada show, celebração, animação, ele não será lembrado, mas sim o Senhor, o nome de Jesus. Não faz do altar seu palco, nem da oração seu teatro pessoal. Seu ministério levará as pessoas a se encantarem com o Senhor que fez tantas maravilhas. Não avaliará seu ministério por quantos elogiam ou choram com suas orações e canções, mas sim com a qualidade e quantidade das conversões que aconteceram como fruto de seu serviço.

            Quando um ministro de música demonstra estas características, mostra que adquiriu maturidade em seu ministério, e é digno de confiança. Ministro de música que se destaca por sua qualidade técnica, mas não são convertidos, apenas estampam atitudes superficiais. Peçamos ao Senhor e cultivemos a maturidade do Espírito que nos leva a atingir a estatura de Cristo.

Função e papel do cantor litúrgico: Por que cantar?

            “A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene”. (SC 112)

- Expressa melhor e mais profundamente a oração - Pelo canto, a oração se expressa com mais suavidade. Mais que as outras artes, a música expressa a essência, o próprio ser e o mistério celebrado.

- Mais claramente se manifestam o mistério da liturgia e da Igreja, Corpo Místico de Cristo, sua índole hierárquica e comunitária, uma vez que a liturgia é ação de toda a igreja.
- Favorece e expressa a unidade - Mais profundamente se atinge a unidade dos corações, pela unidade das vozes, vencendo o isolamento, criando sintonia e harmonia, acima de diferenças, idade, cultura e idiomas... Cantar em comum produz união, torna os membros coesos entre si. Portanto, o canto faz a comunidade.

- Enriquece e soleniza a celebração, gerando festa: “Nada mais festivo e mais grato nas celebrações sagradas do que uma assembleia que, em seu todo, expressa sua fé e sua piedade por meio do canto.” (MS 16). O canto soleniza um rito, tornando a celebração mais plena, mais intensa, mais clara, possibilita sua melhor realização, sendo gesto vocal que realiza o rito.

- Exerce uma “função ministerial”, não apenas como humilde serva da liturgia, mas uma nobilíssima serva, como “ministra da liturgia”. Isso “implica em duas condições: a) subordinar sua própria identidade a uma função, b) e por outro, sua ação se transforma em verdadeira atividade sagrada, celebrante e santificadora. Pela primeira, a música não atua na liturgia como único critério de sua autonomia estética, porém, longe de perdê-la, sua própria identidade artística e seu ofício exercem um autêntico ministério.”

- Eleva as almas mais facilmente, pelo esplendor das coisas santas até as realidades supra terrenas, sobrenaturais. Sua solenidade não se dá tanto pela polifonia, por um coral, mas pela participação de todos. A celebração em comum, e cantada, é a festa.” (Nossas festas em família que o digam!)

- Prefigura a Jerusalém celeste - Enfim, toda a celebração mais claramente prefigura aquela efetuada na celestial Jerusalém. (Quem não experimentou um pouco do céu na morte do nosso querido João Paulo II?... Como que pequena fresta da janela da casa do Pai se abriu... e foi um antegozo da liturgia celeste). O livro do Apocalipse: canto novo dos resgatados diante do Cordeiro, quando Ele se manifestar em sua glória. Nossa liturgia terrestre deve prefigurar a do céu...

- Ajuda a sair de nós mesmos, do nosso individualismo e comodismo, para viver o comunitário, indo ao encontro do outro. Deixamos o eu para assumir o nós!

- Serviços da Música Litúrgica: Ser instrumento de oração e celebração; Viabilizar a festa; Fazer entender o inaudito (música não cheia de si mesma, mas portadora de silêncio e adoração).

Jesus Cristo: Músico, Salmista e Cantor do Pai

            Jesus nasce num povo que expressa sua fé cantando. Ele cantou com palavras e tons, como qualquer judeu de seu tempo, orando em recitação ritual, com balanço em dois tempos, de acordo com o costume do seu povo. O ofício da sinagoga é cantado, quase em sua totalidade: orações, bênçãos, salmos. A Bíblia não representa outra coisa a não ser o eco soberano do sentimento lírico e musical de todo um povo.
            “Chegada a plenitude dos tempos,” Jesus apareceu como a expressão e o canto de Deus, o canto do novo salmo, o melhor intérprete do seu povo. Ele serve-se de nossa voz, fazendo-se presente na liturgia e em nosso canto. Santo Agostinho escreve: “Quando o leitor sobe ao púlpito, é Cristo quem nos fala. Cristo tampouco permanece silencioso em vocês, quando cantam... não é porventura o próprio Cristo quem canta em sua voz?”.
            Os Salmos, composições líricas, foram feitos para serem cantados, e são o livro de cantos do povo de Israel, parte importante do culto sinagogal. Jesus, como bom judeu, frequenta o templo, participa da liturgia. Cantou com a voz, o coração e a vida os cantos, hinos e salmos...
            “Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura”. (Lc 4, 16) Ele cita os salmos, por exemplo, o Sl 133(132)Como é bom e agradável viverem os irmãos unidos!”, os salmos do Hallel (= cantar hinos de alegria e louvor, conjunto dos salmos 114 ao 119), são cantados nas grandes solenidades, como a Páscoa...Depois de terem cantado salmos, ele e seus discípulos foram para o monte das Oliveiras” (Mt 26, 30; Mc 14, 26).
            Desde o nascimento de Jesus, a música já está presente. O anjo anuncia aos pastores “uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2, 10-11). Com esse anúncio, tem início o mais belo hino de louvor, cantado pelas melhores vozes: “De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados’” (Lc 2, 13-14).
            “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram para a festa, como de costume”. (Lc 2, 41-42). Os judeus subiam para Jerusalém em caravanas, cantando salmos graduais (sl 120 e 134). “Alegrei-me quando me disseram: ‘Vamos à casa de Javé!’ Nossos passos já se detêm junto às tuas portas, Jerusalém!” (Sl 122 [121]).
            Aqui ainda podemos lembrar ainda os três formosos cânticos evangélicos: o Magnifica (Lc 1, 46-55), o Benedictus (Lc 1, 68-79) e o Nunc dimittis (Lc 2, 29-32).
            Jesus ouviu as aclamações-grito de seus discípulos que, em massa e entusiasmados, puseram-se a louvar a Deus, em alta voz: “Bendito seja aquele que vem como Rei, em nome do Senhor!”, assim como ouviu também as aclamações dos grupos que o acompanhavam gritando: “Hosana ao filho de Davi!”, “Bendito o que vem em nome do Senhor!”, “Viva Deus, soberano!”, Este é o profeta, Jesus, de Nazaré da Galiléia”. (cf Lc 19, 37-38; 21 9-11)
            A tradição viu nos salmos ao mesmo tempo a voz de Cristo rezando ao Pai e a voz da Igreja voltada para o seu Senhor. Santo Agostinho: Os salmos são a voz do Cristo total: a cabeça e o corpo.”.
            “Jesus Cristo, assumindo a natureza humana, trouxe para este exílio terrestre aquele hino que é cantado por todo o sempre nas habitações celestes. Ele associa a Si toda a comunidade dos homens e une-a consigo na celebração deste divino cântico de louvor.” (SC83)


O canto na vida dos santos

Santo Agostinho: “Quantas lágrimas verti, quão violenta emoção experimentada, Senhor, ao ouvir em vossa Igreja os hinos e cânticos que o louvam. Ao mesmo tempo em que aqueles sons penetravam em meus ouvidos, vossa verdade se derretia em meu coração, excitando os movimentos de piedade, enquanto corriam minhas lágrimas.”...
- “Se queres saber o que cremos, vem ouvir o que cantamos”.
- “Cantar é próprio de quem ama”.
- “Quem canta bem, reza duas vezes”.
- “Poucas coisas são tão próprias para excitar a piedade nas almas e inflamá-las com o fogo do amor divino como o canto”.

Santo Ambrósio: “Na verdade, não vejo o que os fiéis podiam fazer de melhor, de mais útil, de mais santo, do que cantar, quando reunidos para celebrar o Senhor como Igreja”.

Santo Tomás de Aquino: “Onde a palavra termina, ali começa o canto”.

São Jerônimo: “Quando estamos servindo ao pecado e aos vícios e estamos desterrados em terra estrangeira, não podemos cantar a Deus”.

 “A Música desperta no homem esta inquietude pelo Infinito, este desejo da Beleza, do Amor, esta ânsia pela Plenitude, e torna-se assim um sinal de Deus e o caminho mais curto para o encontro com Ele [1]”.







[1] Grande Sinal, Ed. Vozes – A música como caminho de espiritualidade, 1985, pág. 730.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Linguagem Simbólica na Liturgia

                “Os sinais, importantes em qualquer ação litúrgica, devem ser empregados de maneira viva e digna, com o pressuposto duma catequese adequada. As adaptações previstas na Constituição Sacrosanctum Concilium e nas normas pastorais posteriores são indispensáveis para se conseguir um rito acomodado a nossas necessidades, especialmente às do povo simples, tendo-se em conta suas legítimas expressões culturais”. (Puebla, 926)
            A antropologia afirma que o ser humano é simbólico por natureza e, sendo simbólico em sua manifestação essencial, ele é ritual. Aristóteles dizia: “Nada há no intelecto que não tenha passado pelos sentidos”. O ser humano não dispensa a corporeidade, ele precisa captar noções através dos sentidos corpóreos e exprime-se mediante sinais sensíveis. Em outras palavras, para raciocinar acertadamente, precisamos olhar, ouvir, apalpar... Isso é particularmente verídico na Liturgia: ela consta de palavras, gestos, objetos que devem levar as mentes a passar do visível ao invisível. O Concílio Vaticano II muito contribuiu para valorizar a Palavra nas celebrações litúrgicas; todavia é preciso lembrar que a Liturgia não é simplesmente uma catequese, mas, uma ação sagrada; é, sim, a perpetuação da obra redentora de Cristo mediante palavras, gestos e objetos simbólicos.
            Usamos símbolos para tudo: para expressar nossa alegria pelo aniversário de alguém querido (o presente); para expressar nossa adesão a um time de futebol ou a um movimento (camisa); O recurso aos símbolos religiosos é espontâneo ao ser humano, independente do seu Credo: há palavras sagradas, cantos sacros, objetos consagrados, refeições rituais, festas religiosas... Tenha-se em vista o sábado judaico, com seus ritos, suas preces... que tornam o judeu mais consciente da sua pertença a um povo escolhido. Na Liturgia católica, diz o Concílio Vaticano II, “os sinais sensíveis significam e realizam a santificação do homem e a glorificação de Deus” (SC, 7). Para os cristãos, o sinal que realiza o que assinala, é, por excelência, o Cristo Jesus, a Palavra feita carne é contemplada, apalpada pelos Apóstolos, como diz São João em Jo 1, 1-4.
            Portanto, o símbolo é insubstituível também na linguagem teológica. Ele é diferente do simbolizado (Deus). Ele o esconde e ao mesmo tempo o revela. É uma realidade humana, visível, que exerce uma função mediadora e comunicadora ao remeter-nos àquele que ele simboliza, Deus. O símbolo nos envia a uma realidade ou conteúdo que não conseguimos, de forma alguma, representar. Permite-nos adequar o inefável ao nosso nível de conhecimento: aquilo do qual não poderíamos ou não saberíamos dizer nada. O símbolo não se explica, ele é a epifania, manifestação, de uma experiência profunda, diante da qual só nos resta calar.
            A época em que vivemos traz consigo uma mistura de características e tem uma linguagem própria. Essa linguagem repete aquilo que é a pós-modernidade: um período de rápidas transformações, marcado pelos valores do mercado, pela competição, pelo desejo de lucro; tudo é calculado cientificamente, e somente o que passa pelo crivo da racionalidade é levado à sério. É um período em que tudo gira em torno do “eu”, dando margem ao individualismo, ao egocentrismo, ao narcisismo, ao subjetivismo, ao liberalismo. Há uma busca pela especialização e, com isso há também a fragmentação do ser humano, que já não tem a noção do todo. Vivemos uma mudança de época.
            Por outro lado, há uma intensa busca pelo místico, pelo desconhecido, pelo sagrado, mas, determinada ora pelo subjetivismo, ora pelo emocionalismo, ou seja, pelo desejo de autossatisfação. Não se busca o sagrado pelo sagrado, mas se quer somente a sensação de bem-estar pessoal.            Os símbolos, neste contexto, perdem o seu significado.
            Na liturgia, o Deus eterno e sempre novo é o centro, e não o “eu”, histórico e limitado. Deus é todo mistério, um mistério que não é evidente, que não pode ser captado totalmente pela nossa razão, ou mesmo pelos nossos sentimentos, e por isso não pode ser definido perfeitamente pela nossa linguagem.
            A linguagem que usamos para falar do mistério e dialogar com ele na liturgia, ainda que imperfeita ou inadequada, é a linguagem simbólica. Somente por meio de símbolos nós percebemos a realidade transcendente.
            Mas o que vem a ser, afinal, o símbolo? A origem da palavra está no grego, e significa “aquilo que une, que faz ligação”. Logo, o símbolo, na Liturgia, é aquilo que serve para unir a realidade humana à realidade divina. É um sinal sensível e significativo de uma realidade que ultrapassa o próprio sinal sensível. Àquela realidade, significada pelo sinal, podemos chamar de mistério.
            Podemos compreender o símbolo de três modos: 1. O símbolo é a mesma realidade em outro modo de ser: por exemplo, a rosa é o amor na forma de oferta de uma rosa; ou, 2. O símbolo é um sinal sensível que contem, oculta, revela e comunica, ao mesmo tempo, o mistério; ou ainda: 3. O símbolo é a linguagem ou a comunicação do mistério.
            O rito é formado por um ou mais símbolos. É uma ação ordenada pelo ritmo. A celebração eucarística é o mistério de nossa fé expresso numa linguagem simbólica e ritual: fazemos memória de Jesus, seguindo justamente o rito que ele mesmo ensinou.
            Os símbolos e ritos cristãos adquirem sentido a partir de três fontes:
·        Os elementos da natureza que formam o cosmo: Quanto mais um elemento ou objeto estiver ligado com a vida, maior força simbólica ele possuirá. Temos, então, como símbolos profundamente ligados à vida: a água, a luz e as trevas, o ar, a terra, os frutos da terra como o pão e o vinho, o óleo, a cinza etc. Aqui percebemos a dimensão cósmica da Sagrada Liturgia.
“Deus fala ao homem por intermédio da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu Criador. (Cf. Sb 13,1; Rm 1, 15-20; At 14, 17)” (CIC §1147)

·        A história da humanidade: No plano antropológico, adquirem sentido também a partir da história, por exemplo, a bandeira de um país.
“Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar da expressão da ação de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus. Acontece o mesmo com os sinais e os símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, parir o pão e partilhar o cálice, podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu Criador.” (CIC §1148)

·        A História da Salvação prolongada no tempo da Igreja: Transmitida através das Sagradas Escrituras lidas e interpretadas à luz da Tradição.
Sinais a aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos que marcam sua vida litúrgica: estes não mais são apenas celebrações de ciclos cósmicos e gestos sociais, mas sinais da aliança, símbolos das grandes obras realizadas por Deus em favor de seu povo. Entre tais sinais litúrgicos da antiga aliança podemos mencionar a circuncisão, a unção e a consagração dos reis e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios, e, sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nesses sinais uma prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.”    (CIC §1150)
Sinais assumidos por Cristo. Em sua pregação, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza suas curas ou sublinha sua pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e aos sinais da Antiga Aliança, particularmente ao Êxodo e à Páscoa, por ser ele mesmo o sentido de todos esses sinais.” (CIC §1151)
“Sinais sacramentais. Desde Pentecostes, é por meio dos sinais sacramentais de sua Igreja que o Espírito Santo realiza a santificação. Os sacramentos da Igreja não abolem, antes purificam e integram toda a riqueza dos sinais e dos símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e as figuras da antiga aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.” (CIC §1152)
Portanto, os símbolos e ritos litúrgicos adquirem sentido à luz do cosmos ou da criação, da História da Salvação e da história do povo de Deus, a Igreja. “Inseridos no mundo da fé e assumidos pela força do Espírito Santo, esses elementos cósmicos, esses ritos humanos, esses gestos memoriais de Deus, se tornam portadores da ação salvadora e santificadora de Cristo.” (CIC §1189)
O Concílio Vaticano II ajudou-nos a distinguir na Sagrada Liturgia “uma parte imutável, divinamente instituída e partes suscetíveis de mudanças. Estas, com o correr dos tempos, podem ou mesmo devem variar, se nelas introduzidas algo que não corresponda bem à natureza íntima da própria Liturgia, ou se estas partes se tornarem menos aptas. Com esta reforma, porém, o texto e as cerimônias devem ordenar-se de tal modo que de fato exprimam mais claramente as coisas santas que eles significam e o povo cristão possa compreendê-las facilmente, na medida do possível, e também participar plena e ativamente da celebração comunitária” (SC 21).
A liturgia busca tocar todos os nossos sentidos, nossa corporeidade. Ela quer nos fazer experimentar o mistério e nos faz comprometidos com ele. Aproveitando-se de objetos, gestos, sons, cores, luzes e sombras, gostos, cheiros, a ação litúrgica torna presente, muito além da nossa razão, o próprio Jesus Cristo, e com Ele o Pai e o Espírito Santo.
Disto tudo se conclui que a Liturgia há de ser celebrada de maneira significativa, que redunde em estética não teatral, mas eloquente em sua simplicidade. As convicções de quem celebra hão de transparecer através dos sinais utilizados. Devemos aplicar toda a nossa atenção, todo o nosso amor, enfim, todo o nosso ser nas nossas celebrações. É necessário que deixemos de lado todo o excesso de racionalismo e as preocupações exageradas com o “eu”, próprias da pós-modernidade, para nos entregarmos ao encontro com o próximo e com Deus. Não precisamos, nem devemos multiplicar as palavras ou tentar explicar os símbolos que usamos em nossas celebrações. Eles devem falar por si, senão não são símbolos.

Referências:
  1. Catecismo da Igreja Católica
  2. Compêndio do Concílio Vaticano II – Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, Sobre a Sagrada Liturgia – Papa Paulo VI – 1963.
  3. Puebla: “A Evangelização no presente e no futuro da América Latina” – III Conferência Geral Episcopal Latino-Americana – 1979.
  4. Bettencourt, Dom Estevão – “O Simbolismo na Liturgia”: Pergunte e Responderemos 525, março de 2006