Jesus nasce num
povo que expressa sua fé cantando. Ele cantou com palavras e tons, como
qualquer judeu de seu tempo, orando em recitação ritual, com balanço em dois
tempos, de acordo com o costume do seu povo. O ofício da sinagoga é cantado,
quase em sua totalidade: orações, bênçãos, salmos. A Bíblia não representa
outra coisa a não ser o eco soberano do sentimento lírico e musical de todo um
povo.
“Chegada a plenitude dos tempos,”
Jesus apareceu como a expressão e o canto de Deus, o canto do novo salmo, o
melhor intérprete do seu povo. Ele serve-se de nossa voz, fazendo-se presente
na liturgia e em nosso canto. Santo Agostinho escreve: “Quando o leitor sobe ao púlpito, é Cristo quem nos fala. Cristo
tampouco permanece silencioso em vocês, quando cantam... não é porventura o
próprio Cristo quem canta em sua voz?”.
Os Salmos, composições
líricas, foram feitos para serem cantados, e são o livro de cantos do povo de
Israel, parte importante do culto sinagogal. Jesus, como bom judeu, frequenta o
templo, participa da liturgia. Cantou com a voz, o coração e a vida os cantos,
hinos e salmos...
“Jesus foi à cidade
de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou na
sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura”. (Lc 4, 16) Ele cita os
salmos, por exemplo, o Sl 133(132) “Como
é bom e agradável viverem os
irmãos unidos!”, os salmos do Hallel
(= cantar hinos de alegria e louvor,
conjunto dos salmos 114 ao 119), são
cantados nas grandes solenidades, como a Páscoa... “Depois de terem cantado salmos, ele e seus
discípulos foram para o monte das
Oliveiras” (Mt 26, 30; Mc 14, 26).
Desde o nascimento de
Jesus, a música já está presente. O anjo anuncia aos pastores “uma grande
alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um
Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2, 10-11). Com esse anúncio, tem
início o mais belo hino de louvor, cantado pelas melhores vozes: “De
repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a
Deus, dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens
por ele amados’” (Lc 2, 13-14).
“Os pais de Jesus
iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Quando o menino
completou doze anos, subiram para a festa, como de costume”. (Lc 2, 41-42).
Os judeus subiam para Jerusalém em caravanas, cantando salmos graduais (sl 120
e 134). “Alegrei-me quando me disseram: ‘Vamos à casa de Javé!’ Nossos
passos já se detêm junto às tuas portas, Jerusalém!” (Sl 122 [121]).
Aqui ainda podemos
lembrar ainda os três formosos cânticos evangélicos: o Magnifica (Lc 1, 46-55),
o Benedictus (Lc 1, 68-79) e o Nunc dimittis (Lc 2, 29-32).
Jesus ouviu as
aclamações-grito de seus discípulos que, em massa e entusiasmados, puseram-se a
louvar a Deus, em alta voz: “Bendito seja aquele que vem como Rei, em nome
do Senhor!”, assim como ouviu também as aclamações dos grupos que o
acompanhavam gritando: “Hosana ao filho de Davi!”, “Bendito o que vem em
nome do Senhor!”, “Viva Deus, soberano!”, Este é o profeta, Jesus, de
Nazaré da Galiléia”. (cf Lc 19, 37-38; 21 9-11)
A tradição viu nos
salmos ao mesmo tempo a voz de Cristo
rezando ao Pai e a voz da Igreja voltada para o seu Senhor. Santo
Agostinho: “Os salmos são a
voz do Cristo total: a cabeça e o corpo.”.
“Jesus Cristo, assumindo a
natureza humana, trouxe para este exílio terrestre aquele hino que é cantado
por todo o sempre nas habitações celestes. Ele associa a Si toda a comunidade
dos homens e une-a consigo na celebração deste divino cântico de louvor.”
(SC83)
Nenhum comentário:
Postar um comentário