segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Antão, Taumaturgo de Deus e Médico das Almas

         A fama da santidade de Antão, como tivemos oportunidade de ver anteriormente, já se espalhara não somente em Alexandria mas também pelos povoados vizinhos, de maneira que ele era procurado para realizar curas, pois, confiavam nas suas orações junto a Deus. E realmente Santo Antanásio nos fala de muitas curas realizadas por Santo Antão, quando ainda estava vivo. Vejamos algumas:
Certa vez os monges convidaram Antão para passar algum tempo com eles, no que foram atendidos.  Saíram então em viagem, Antão e os monges que vieram a seu encontro. Um camelo ia carregado com pão e água, já que em todo esse deserto não havia água, e a única potável estava na montanha onde ficava sua cela-caverna, de onde haviam saído.   
A partir de certo momento, acabou-se a água, e estavam todos em perigo, pois o calor era muito grande. Foram procurar água e voltaram sem a terem encontrado, ficando caídos no chão, entregues ao desespero e por demais fracos para poderem continuar a viagem. O camelo continuou caminhando. Vendo, então, o perigo em que todos se encontravam, o ancião encheu-se de aflição. Suspirando profundamente, apartou-se um pouco deles. Ajoelhou-se, estendeu as mãos e orou. De repente, o Senhor fez brotar uma fonte no lugar onde estava orando, e todos puderam beber e refrescar-se. Encheram os odres e puseram-se a buscar o camelo até que o encontraram. Levaram-no a beber e carregando-o com os odres, concluíram sua viagem, sem mais prejuízos ou acidentes.
Em outra ocasião, quando Antão esteve pela segunda vez em Alexandria e estava se despedindo para voltar ao seu retiro do Monte Pispir, ao chagar à porta da Cidade, conta-nos Atanásio que uma mulher, correndo atrás de Antão, gritava: "Espera, homem de Deus, minha filha está sendo terrivelmente atormentada por um demônio! Espera, por favor, ou eu vou morrer!" O ancião, escutando os apelos daquela mulher, deteve-se e atendeu a seu pedido, sem se aborrecer. Quando a mulher se aproximou, sua filha estava arrojada ao chão. Antão orou, invocando sobre ela o nome de Cristo. A moça levantou-se sã e o espírito impuro a deixou. Todos renderam graças a Deus. E Antão continuou sua viagem, para o seu próprio lar.
Antão foi sempre um bom conselheiro. Até mesmo os imperadores romanos da época buscavam os conselhos e orações do santo eremita. Com os que sofriam unia-se em oração, e com muita freqüência o Senhor ouvia seus pedidos. Nunca, porém, se vangloriava quando era atendido, nem se queixava não o sendo. Sempre deu graças ao Senhor e animava os que sofriam, a terem paciência e a se aperceberem de que a cura não era prerrogativa dele nem de ninguém, mas somente de Deus, que a opera quando quer e em benefício de quem Ele quer. Os que sofriam, ficavam satisfeitos, só em receber os conselhos do ancião, pois aprendiam a ter paciência e a suportar o sofrimento. E os que eram curados aprendiam a dar graças, não a Antão, mas a Deus.
Um certo homem, chamado Frontão, oficial romano, que vivia a serviço do prefeito romano de Alexandria, tinha uma enfermidade horrível: mordia continuamente a língua e sua vista ia se encurtando. Chegou à montanha e pediu a Antão que intercedesse por ele junto a Deus. Antão lhe disse: "Volte para casa; você será curado". Ele porém, insistiu e ficou durante dias, enquanto Antão prosseguia dizendo-lhe: "Você não ficará curado enquanto ficar aqui. Vá para casa e quando lá chegar, verá o milagre realizado". O homem resolveu obedecer às ordens do santo eremita e, ao chegar em casa, sua enfermidade havia desaparecido. Ele ficou curado graças às orações que Antão havia feito ao Senhor.
Impressionante é também o caso de uma menina de Busiris. Ela padecia de uma enfermidade repugnante: uma supuração nos olhos, nariz e ouvidos transformava-se em vermes quando caía no chão. Além disso, tinha o corpo paralisado, e seus olhos eram defeituosos. Seus pais ouviram falar de Antão por alguns monges que iam vê-lo, e tendo fé no Senhor que curou a hemorroísa (Mt 9,20), pediram aos monges para irem com eles, levando também sua filha, e eles consentiram. Os pais e a menina ficaram ao pé da montanha com Pafnúcio, que era também monge e confessor. Os monges  subiram, e quando se dispunham a falar-lhe da menina, Antão adiantou-se e  falou-lhes tudo sobre os sofrimentos dela, e de como havia feito com eles a viagem. Então, quando lhe perguntaram se os pais com a menina podiam subir, não lhes permitiu e disse: "Podem voltar e irão encontrá-la curada. Não é nenhum mérito meu; não, em verdade, sua cura é obra do Salvador que mostra sua misericórdia em todo lugar aos que o invocam. O Senhou ouviu a oração de seus pais, e me revelou que curará a enfermidade da menina onde ela está". O milagre realizou-se: quando desceram, encontraram os pais felizes e a menina em perfeita saúde.
Noutra ocasião, o conde Arquelau foi até Antão, na montanha onde morava e pediu-lhe somente que rezasse por Policrácia, uma seguidora de Jesus, residente em Laodicéia. Sofria muito do estômago e das costas, devido à sua excessiva austeridade. O seu corpo estava reduzido a grande debilidade. Antão pediu a Deus por ela e o conde anotou o dia dessa oração. Ao voltar a Laodicéia, encontrou a seguidora de Jesus curada. Perguntou então a Policrácia quando se sentira curada, e ao receber  a resposta, todos se maravilharam ao reconhecerem que o Senhor a havia curado de sua doença no próprio momento em que Antão estava orando e invocando a bondade do Salvador, em seu auxílio.
Outra vez, certo jovem, possuído por um demônio, foi levado até Antão. O demônio era tão terrível que o possesso não estava consciente de que ia a Antão. Chegava mesmo a devorar seus próprios excrementos. Aqueles que o levaram, pediram ao santo eremita que rezasse por ele. Antão se compadeceu do jovem, orou e passou com ele toda a noite. Ao amanhecer, o jovem lançou-se de repente sobre Antão, empurrando-o. Seus companheiros indignaram-se diante disso, mas o ancião acalmou-os, dizendo: "Não se aborreçam com o jovem, pois não é ele o responsável, e sim o demônio que nele está. Ao ser repreendido, ficou furioso e fez isto (Mc 5,1ss). Dêem graças ao Senhor, pois o atacar-me deste modo é um sinal da partida do demônio". E enquanto Antão dizia isto, o jovem voltou a seu estado normal; deu-se conta de onde estava, abraçou o ancião e deu graças a Deus.
Aconteceram também, na vida de Santo Antão, certas revelações de fatos que ainda iam acontecer ou que estavam acontecendo bem distante do lugar onde ele se encontrava, como visitas que ia receber ou perigos por que estavam passando certas pessoas. Vejamos alguns desses casos. 
Uma certa ocasião em que estava sentado na montanha, olhando para cima, Antão viu no ar alguém levado para o alto, entre grande regozijo de outros que lhe saíam ao encontro. Admirando-se de tão grande multidão e vendo quão felizes eram, orou para saber quem podia ser este. De repente uma voz se dirigiu a ele dizendo-lhe que era a alma do monge Amon de Nítria, que levou vida ascética até idade avançada. Pois bem, a distância de Nítria à montanha onde Antão estava, era de treze dias de viagem. Os que estavam com Antão, vendo o ancião tão extasiado, perguntaram-lhe o motivo e ele lhes contou que Amon acabava de morrer. Este era bem conhecido, pois vinha aí freqüentemente e muitos milagres foram operados por seu intermédio. Os monges aos quais Antão falou sobre a morte de Amon, anotaram o dia. Um mês depois, quando os irmãos voltaram a Nítria, perguntaram e souberam que Amon havia dormido no mesmo dia e hora em que Antão viu sua alma levada para o alto. E tanto eles como os outros ficaram estupefatos ante a santidade de Antão, que recebia tais revelações.
Sucedeu também que, quando dois dos irmãos estavam em viagem para vê-lo, acabou-se a água que levavam; um morreu, e o outro estava a ponto de morrer. Já não tinha forças para andar. Jazia no chão, esperando também a morte. Sentado na montanha, Antão chamou dois monges que casualmente estavam ali e mandou que se apressassem, dizendo: "Tomem um jarro d'água e corram, descendo pelo caminho de Alexandria; vinham dois, um acaba de morrer e o outro também morrerá se vocês não se apressarem. Foi-me revelado isto agora na oração". Foram-se os monges, acharam um morto e o enterraram. Ao outro fizeram-no reviver com água e o levaram ao ancião. A distância era de um dia de viagem. O admirável em tudo isso é que, enquanto estava na montanha com seu coração tranqüilo, mostrou-lhe o Senhor coisas distantes.
Certa vez, um comandante chamado Balácio, por ser partidário dos arianos, perseguia duramente os cristãos. Em sua barbárie chegava até a espancar as virgens e desnudar e açoitar os monges. Então, Antão enviou-lhe uma carta dizendo-lhe o seguinte; "Vejo que o juízo de Deus se aproxima de ti; deixa pois de perseguir os cristãos para que não te surpreenda o juízo, que agora está a ponto de cair sobre ti". Balácio, entretanto, pôs-se a rir, jogou a carta no chão e nela cuspiu; maltratou os mensageiros e ordenou-lhes que levassem a Antão a seguinte mensagem: "Vejo que estás muito preocupado com os monges; chegará o teu dia". Não haviam passado cinco dias quando o juízo de Deus caiu sobre ele. Balácio e Nestório, prefeito do Egito, haviam saído para Alexandria; ambos iam a cavalo. Os cavalos pertenciam a Balácio e eram os mais mansos que ele tinha. Ainda não haviam chegado, quando os cavalos, como costumam fazer, começaram a retrucar um contra o outro, e de repente o mais manso dos dois, cavalgado por Nestório, mordeu Balácio, lançou-o por terra e o atacou. Rasgou-lhe de tal modo os músculos, com seus dentes, que tiveram de levá-lo de volta à cidade, onde morreu depois de três dias. Todos se admiraram de que se cumprisse tão rapidamente o que Antão predissera.
Quanto a seus visitantes, predizia freqüentemente sua vinda, dias e, às vezes, um mês antes, indicando o motivo da visita. Alguns vinham só para vê-lo, outros, devido a enfermidades, e outros, atormentados pelos demônios. E ninguém considerava a viagem demasiadamente cansativa ou que fosse tempo perdido; cada um voltava, sentindo que fora ajudado.    
Ainda que Antão tivesse esses poderes de palavra e visão, no entanto, suplicava que ninguém o admirasse por essa razão, mas admirasse antes o Senhor, porque Ele nos ouve a nós, que somos apenas criaturas humanas.
Tudo isso aconteceu, e muito mais, na vida de Antão. Não deveríamos ficar tão admirados ou mesmo descrentes por se terem sucedido esses grandes milagres por intermédio de um homem ainda vivo, pois tal é a promessa do Salvador: "Se tiverem fé ainda que seja como um grão de mostarda, dirão a este monte: 'Passa-te daqui para lá' e ele passará; nada lhes será impossível" (Mt 17,19b). E também: "Em verdade lhes digo: tudo o que pedirem ao Pai em meu Nome, Ele lhes dará... Peçam e receberão (Jo 16, 23ss). É Ele quem diz a seus discípulos e a todos os que nele crêem: "Curem os enfermos.... lancem fora os demônios; de graça o receberam, grátis devem dá-lo" (Mt 10,8).
Quem recorreu a Antão, na dor, sem voltar com alegria? Quem chegou chorando por seus mortos e não se libertou imediatamente de seu pesar? Houve alguém que chegasse com ira e não a transformasse em amizade? Quem, pobre ou arruinado, foi a ele e, ao vê-lo e ouvi-lo não desprezou a riqueza, sentindo-se consolado em sua pobreza? Que monge negligente não ganhou novo fervor ao visitá-lo? Que jovem, chegando à montanha e vendo Antão, não renunciou logo ao prazer, começando a amar a castidade? Quem se lhe acercou atormentado por um demônio e não foi liberto? Quem chegou com a alma torturada e não encontrou a paz do coração?
De tal modo Antão se interessava e mesmo lutava pela causa dos ofendidos e por aqueles que sofriam ou que precisavam de sua ajuda que se podia pensar ser ele mesmo e não outros a parte agravada.
Antão curava e socorria os necessitados, orando e invocando o nome de Cristo, de modo que para todos era claro que não era ele quem atuava, mas o Senhor, que mostrava seu amor pelos homens, curando os que sofriam, por intermédio de Antão. Este, na sua simplicidade e humildade, não se afastava de sua vida de oração e da prática da ascese e, por esta razão levava sua vida na montanha, feliz na contemplação das coisas divinas, no entanto, pesaroso de que tantos o perturbassem e o forçassem a sair de seu retiro.
Por esses fatos e por tantos outros é que Santo Atanásio o chama na sua “Vita Antonii”, Taumaturgo de Deus e Médico das almas

Nenhum comentário:

Postar um comentário