Quando Antão tinha 18 ou 19 anos, um acontecimento veio modificar toda sua vida. No ano 270, em rápida sucessão, morreram os seus pais, e ele ficou em companhia da única irmã que tinha. Não sabemos o nome da irmã de Antão, que era mais jovem do que ele, e logicamente de menor. Tudo o que era de seu pai, pertencia agora ao jovem Antão e sua irmã, pois herdaram os bens da família. Portanto, economicamente ficara em boa situação. Moralmente também, pois, de seus pais herdara uma boa educação cristã, e agora, como chefe da pequena família, aparecia diante da comunidade com uma vida moralmente correta e de economia sólida, apesar de sua pouca idade. Queria continuar a tradição familiar, por isso procurava administrar bem tudo o que o pai lhe deixara em herança, aumentando sempre mais o seu patrimônio, sem esquecer a prática da fé, fruto da boa educação cristã que recebera.
O pai de Antão tinha vivido uma adesão incondicional aos Mandamentos de Deus e havia transmitido a seu filho esta sua obediência e piedade inatas.
Certa vez, seis meses depois da morte de seus pais, durante a Missa dominical, que Antão jamais perdia, escutou a leitura daquela passagem do Evangelho em que Nosso Senhor aconselhou um determinado jovem que desejava atingir a vida perfeita, a desapegar-se de todos os bens terrenos, dar tudo aos pobres e depois seguir a Jesus (Mt 19,16-22). Terminada a leitura do Evangelho, Antão se sentiu chamado. Começou então a refletir como tinham os Apóstolos abandonado tudo para seguir Jesus e como aqueles dos quais se fala nos Atos, 4,34-35, vendiam seus bens e levavam o produto aos pés dos Apóstolos, para ser repartido com os necessitados... Não precisou mais nada. Deus lhe falava clara e diretamente pela leitura bíblica que escutara. O que ele acabava de ouvir eram ordens de seu Pai. E as ordens de seu Pai do Céu, Antão não discutia. Levantou-se, deixou a Igreja, vendeu suas terras e seus rebanhos, colocou sua irmã numa casa de senhoras piedosas, espécie de convento que abrigava jovens e senhoras que também queriam dedicar sua vida a Deus, assegurando-lhe os meios necessários para seu sustento, depois distribuiu aos pobres da aldeia todo o dinheiro que lhe restava e cuidou em realizar seu ideal de pobreza absoluta e solidão.
Antão estava convencido de que as palavras que Cristo dissera ao moço rico da Galiléia, aplicavam-se a ele, o jovem rico de Coma, e por isso ele não duvidou em desembaraçar-se logo de tudo o que possuía e fazer-se pobre, voluntariamente, para toda a vida. Da noite para o dia o rico jovem de Coma tornara-se pobre. Seu pão cotidiano não estava mais garantido. A partir de agora, ia enfrentar todas as privações da pobreza.
Não sabemos o que aconteceu com o moço rico da Galiléia, depois que ouviu as palavras de Jesus e retirou-se triste, cabisbaixo, porque possuía muitos bens, no entanto sabemos, isto sim, que o jovem rico de Coma, o jovem Antão, que viveu no século III depois de Cristo, cumpriu à risca, sem pensar duas vezes, a exortação dirigida, tanto tempo antes, ao jovem da Galiléia: decidiu aceitar o desafio que Deus Ihe fazia e viver sua vida de acordo com o conselho de Jesus ao jovem rico da Galiléia.
Para nós que vivemos hoje, Antão é um belo exemplo, lamentavelmente pouco conhecido, do que acontece a alguém que se decide a seguir os conselhos do Evangelho, com suas plenas conseqüências.
A vocação de Antão tem um caráter evangélico, pois, foi a força regeneradora do Evangelho que o transformou, e é esta mesma força regeneradora que explica o fato de ter ele conservado em toda sua vida uma referência essencial à Sagrada Escritura e à Igreja.
Vamos terminar este capítulo fazendo juntos a seguinte reflexão: Como é importante para a formação dos filhos, o exemplo dos pais!!! Os pais de Antão Ihe haviam transmitido, pela palavra e sobretudo pelo modo de viver, pelo exemplo, a fé cristã e através da escuta atenta da Palavra de Deus e de seu confronto com a vida, a fé que Antão herdara de seus pais se tornou comprometida, tornou-se vida...
E assim, a partir da herança espiritual que Ihe deixaram os seus pais, e da fidelidade ao chamado de Deus, começou a história de um santo; e assim começou e pode ainda começar a história de tantos outros santos de ontem e de hoje...
Nenhum comentário:
Postar um comentário