segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Fiel ao chamado de Deus

Quando Antão tinha 18 ou 19 anos, um acontecimento veio modificar toda sua vida. No ano 270, em rápida sucessão, morreram os seus pais, e ele ficou em companhia da única irmã que tinha. Não sabemos o nome da irmã de Antão, que era mais jovem do que ele, e logicamente de me­nor. Tudo o que era de seu pai, pertencia agora ao jovem Antão e sua irmã, pois herdaram os bens da família. Portanto, econo­micamente ficara em boa situação. Moralmente também, pois, de seus pais herdara uma boa educação cristã, e agora, como chefe da pe­quena família, aparecia diante da comunidade com uma vida moralmente correta e de economia sólida, apesar de sua pouca idade. Queria continuar a tradição familiar, por isso procurava administrar bem tudo o que o pai lhe deixara em he­rança, aumentando sempre mais o seu patrimônio, sem esque­cer a prática da fé, fruto da boa educação cristã que recebera.
O pai de Antão tinha vivido uma adesão incondicional aos Mandamentos de Deus e havia transmitido a seu filho esta sua obediência e piedade inatas.
Certa vez, seis meses depois da morte de seus pais, du­rante a Missa dominical, que Antão jamais perdia, escutou a lei­tura daquela passagem do Evangelho em que Nosso Senhor aconselhou um determinado jovem que desejava atingir a vida perfeita, a desapegar-se de todos os bens terrenos, dar tudo aos pobres e depois seguir a Jesus (Mt 19,16-22). Terminada a leitura do Evangelho, Antão se sentiu chamado. Começou então a refletir como tinham os Apóstolos abandonado tudo para seguir Jesus e como aqueles dos quais se fala nos Atos, 4,34-35, vendiam seus bens e levavam o produto aos pés dos Apóstolos, para ser repartido com os necessitados... Não precisou mais na­da. Deus lhe falava clara e diretamente pela leitura bíblica que escutara. O que ele acabava de ouvir eram ordens de seu Pai. E as ordens de seu Pai do Céu, Antão não discutia. Levantou-se, deixou a Igreja, vendeu suas terras e seus rebanhos, colocou sua irmã numa casa de senhoras piedosas, espécie de con­vento que abrigava jovens e senhoras que também queriam de­dicar sua vida a Deus, assegurando-lhe os meios necessários para seu sustento, depois distribuiu aos pobres da aldeia todo o dinheiro que lhe restava e cuidou em realizar seu ideal de po­breza absoluta e solidão.
Antão estava convencido de que as palavras que Cristo dissera ao moço rico da Galiléia, aplicavam-se a ele, o jovem ri­co de Coma, e por isso ele não duvidou em desembaraçar-se logo de tudo o que possuía e fazer-se pobre, voluntariamente, para toda a vida. Da noite para o dia o rico jovem de Coma tornara-se po­bre. Seu pão cotidiano não estava mais garantido. A partir de agora, ia enfrentar todas as privações da pobreza.
Não sabemos o que aconteceu com o moço rico da Galiléia, depois que ouviu as palavras de Jesus e retirou-­se triste, cabisbaixo, porque possuía muitos bens, no entanto sabemos, isto sim, que o jovem rico de Coma, o jovem Antão, que viveu no século III depois de Cristo, cumpriu à risca, sem pensar duas vezes, a exortação dirigida, tanto tempo antes, ao jovem da Galiléia: decidiu aceitar o desafio que Deus Ihe fazia e viver sua vida de acordo com o conselho de Jesus ao jovem rico da Galiléia.
Para nós que vivemos hoje, Antão é um belo exemplo, lamentavelmente pouco conhecido, do que acontece a alguém que se decide a seguir os conselhos do Evangelho, com suas plenas conseqüências.
A vocação de Antão tem um caráter evangélico, pois, foi a força regeneradora do Evangelho que o transformou, e é esta mesma força regeneradora que explica o fato de ter ele conser­vado em toda sua vida uma referência essencial à Sagrada Es­critura e à Igreja.
Vamos terminar este capítulo fazendo juntos a seguinte reflexão: Como é importante para a formação dos filhos, o exemplo dos pais!!! Os pais de Antão Ihe haviam transmitido, pela palavra e sobretudo pelo modo de viver, pelo exemplo, a fé cristã e através da escuta atenta da Palavra de Deus e de seu confronto com a vida, a fé que Antão herdara de seus pais se tornou comprometida, tornou-se vida...
E assim, a partir da herança espiritual que Ihe deixaram os seus pais, e da fidelidade ao chamado de Deus, começou a história de um santo; e assim começou e pode ainda começar a histó­ria de tantos outros santos de ontem e de hoje...

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