Os homens, Senhor, aprenderam a tudo conservar.
Tudo pode sofrer um como embalsamento. A indústria destrói os germens que
desorganizam tecidos, imuniza da corrupção as substâncias, para que seus
produtos se transportem através do espaço e do tempo.
A
ideia, a mesma ideia se conserva num emblema, monumento, ou palavra. E o
sentimento também não se embalsama? A música não é o sentimento vivo do
compositor comunicando-se aos que a ouvem?
Porém,
Senhor, como são imperfeitos esses processos de conservação! E o amor, quem
pode embalsamá-lo?
Ah!
Jesus, só Vós soubestes esse segredo... A Eucaristia é o Amor embalsamado.
Nem
o gelo das indiferenças, nem a chama dos rancores, nem a lama das blasfêmias,
nem o espezinhar do desdém, nem as trevas do abandono, nem a violência da
cobiça – nada, Senhor, pode levar à corrupção, à morte, a SS. Eucaristia.
Nessa
urna feita de acidentes, reside vivo e palpitante o Amor, eternamente jovem,
totalmente isento de alteração.
Oh
prodígio! Embalsamaram, Senhor, o vosso corpo sagrado quando o desceram da
cruz... mas a vida não animava os vossos membros. Neste embalsamamento do Amor,
estais animado, vivo, impassível, glorioso como no céu. Quem pode, Senhor,
penetrar esse mistério?
Dom Antônio de Almeida Lustosa
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